sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Regras e Limites – apreender a dizer “Não”

Elisabete Condesso
Psicóloga Clínica / Psicoterapeuta / Ludoterapeuta / Formadora

Parte da tarefa de educar consiste em dizer “não”. A criança precisa de saber quais são as suas regras e limites, de modo a saber distinguir entre o que é certo e errado, entre o bem e o mal. Os adultos devem transmitir à criança directrizes nítidas e inequívocas que a ajudem a estruturar-se do ponto de vista psicológico, pois, caso contrário, ela irá sentir-se angustiada, insegura e desprotegida – é fundamental os adultos assumirem o controlo da situação e mostrar quem cuidam dela.

Pais (e educadores em geral) devem compreender que a criança, para se tornar num adulto saudável, necessita de apreender a lidar com momentos de frustração, a enfrentar contrariedades, e tem que conhecer os seus limites. Nos momentos de imposição das regras, é natural que a criança manifeste comportamentos de raiva e frustração, o que, em certa medida, deve ser tolerado e compreendido. Contudo, estas manifestações de desagrado da criança não devem servir de desculpa para deixar-se de impor limites à criança. Antes, pelo contrário, elas devem servir para reafirmar o “não” de modo claro e inequívoco.
Em matéria de regras – e educação em geral - a coerência de atitudes entre pai e mãe é fundamental. De um modo geral, é importante que os pais concordem a respeito dos limites a serem impostos, e estejam de acordo e em sintonia quanto às questões fundamentais. Há que evitar de todo situações em que o pai dita uma regra e a mãe anula – ou vice-versa.

Manter o “não” é assegurar que a regra passa a estar integrada na personalidade da criança. Discutir sobre eventuais divergências em frente à criança, é transmitir-lhe uma imagem de fragilidade e insegurança que não é benéfico para o seu desenvolvimento psicológico. Para a criança é muito confuso quando um dos pais é muito tolerante, deixando para o outro a imposição da disciplina, isto é, reservando-lhe o papel de “mau”. O desenvolvimento desta situação de incoerência entre educadores tenderá a intensificar os episódios em que a criança aceita as regras de um e rejeita as do outro. Não será de estranhar o surgimento de situações em que a criança se comporta de forma correcta na presença do educador mais “rígido” e assuma uma atitude de desafio na presença dos dois.

Dizer “não” a uma criança traduz-se numa frustração e desgosto perante a contrariedade imposta, embora esta situação seja temporária e a vivência negativa passe ao fim de pouco tempo. Deve-se apreender desde pequeno a lidar com situações de frustração, pois elas permitem desenvolver mecanismos de defesa que ajudam a criança a enfrentar momentos menos agradáveis e a ultrapassá-los. Esta aprendizagem é fundamental para o desenvolvimento harmonioso para a vida adulta e para a estruturação psicológica da criança.

Por outro lado, há que salientar um outro aspecto positivo. As definições de regras e limites contribuem para a segurança da criança, na medida que funcionam como barreiras. Ela sentir-se-á muito mais segura se souber até onde pode ir, prevenindo eventuais acidentes e perigos. Um outro aspecto positivo prende-se com o facto de estimular a criança a desenvolver e a mobilizar os seus recursos. Cada limite que é colocado, abre uma oportunidade para o desenvolvimento de novas competências. Por exemplo, o facto de interromper uma brincadeira para ir para a cama, é mostrar-lhe que tudo tem um começo, um meio e um fim, e também, que é necessário ter prioridades.

Os pais e educadores devem consciencializar-se do seu papel educativo, em que a palavra-chave é a comunicação emocional, isto é, devem basear-se no amor, carinho, paciência e optimismo. Devem apreender a ouvir o seu filho(a), não somente o significado das palavras, mas sobretudo entender o que está por detrás delas. Ser mãe ou pai é estar presente nos momentos importantes, mas é também estabelecer limites.

Os pais devem reprimir as acções incompatíveis, quando necessário, mas não os desejos e emoções, que devem tentar compreender.

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