sábado, 16 de abril de 2011

Educação - Obrigação ou Vocação?

Patrícia Gaspar
Psicóloga Clínica / Psicoterapeuta / Ludoterapeuta / Formadora



Com muita facilidade ouvimos dizer “não tenho tempo”, “quem me dera poder ter tempo para…”, “a vida é uma correria, é o trabalho, a casa, quase não tenho tempo para os meus filhos”. Preocupa-nos a quantidade de tempo, mas será que não nos deveria importar mais a qualidade de tempo, sobretudo o tempo de qualidade que os pais passam com os seus filhos? Sendo que esta qualidade passa por estar numa relação afectiva válida, através da qual os pais promovem aos seus filhos um desenvolvimento saudável físico, cognitivo, emocional, psicológico, permitindo-lhes serem crianças ou adolescentes. Mas como é possível ter uma relação afectiva válida? É necessário que os pais ouçam os seus filhos, que os compreendam, que entrem no seu mundo e que partilhem, façam com eles. Que pais e filhos se permitam a uma relação próxima, de intimidade, onde haja empatia, confiança e segurança.

A taxa de natalidade tende a diminuir em Portugal, ora porque os jovens estudam até mais tarde, prolongando a sua estadia em casa dos pais e constituindo família mais tarde, optando por ter apenas um filho, ora porque a situação económico-social difícil que se atravessa no nosso país não transmite segurança para que se possam ter grandes famílias. Enfim, existe uma série de razões. Mas aqui a questão que se coloca é a seguinte: educar um filho é uma obrigação? Ou será antes uma vocação? Por vezes, ouvimos mulheres dizerem que são mães porque a sociedade lhes exige que o sejam. Serão então mães por obrigação? Outras há que sendo mães abdicam de uma carreira profissional para se dedicarem a tempo inteiro à maternidade. Serão mães por vocação?
Com muita facilidade ouvimos dizer “não tenho tempo”, “quem me dera poder ter tempo para…”, “a vida é uma correria, é o trabalho, a casa, quase não tenho tempo para os meus filhos”. Preocupa-nos a quantidade de tempo, mas será que não nos deveria importar mais a qualidade de tempo, sobretudo o tempo de qualidade que os pais passam com os seus filhos? Sendo que esta qualidade passa por estar numa relação afectiva válida, através da qual os pais promovem aos seus filhos um desenvolvimento saudável físico, cognitivo, emocional, psicológico, permitindo-lhes serem crianças ou adolescentes. Mas como é possível ter uma relação afectiva válida? É necessário que os pais ouçam os seus filhos, que os compreendam, que entrem no seu mundo e que partilhem, façam com eles. Que pais e filhos se permitam a uma relação próxima, de intimidade, onde haja empatia, confiança e segurança.
Existem quatro ambientes familiares distintos que se definem pelos comportamentos, crenças, atitudes e pensamentos de pais e filhos. São os ambientes: permissivo, abandónico, autoritário e orientador. O ambiente permissivo define-se pela quase anulação da função e responsabilidade parental, sendo que os pais abdicam do seu poder, não impõem regras ou limites, exigem muito pouco e dão muita liberdade aos filhos, enfim onde tudo é aceite e permitido aos filhos. Este ambiente torna os filhos confusos, sentindo-se rejeitados, dependentes e inseguros, com baixa auto-estima e baixo auto-controlo. No ambiente abandónico é dado pouco ênfase aos sentimentos dos filhos, os pais não se envolvem na vida dos seus filhos, criando nas crianças e adolescentes a sensação de que os seus sentimentos estão errados, tendo portanto dificuldades em lidar com as emoções e em verbalizá-las. No ambiente autoritário prevalece o controlo excessivo, a imposição de regras rígidas, o uso da punição e a dificuldade em compreender os sentimentos dos filhos. Como consequência deste estilo familiar, surgem nas crianças e nos adolescentes a insegurança, o medo, a culpa, a rejeição, a baixa auto-estima, a desconfiança e a insatisfação. Neste ambiente, os filhos procuram estratégias para não serem punidos, têm pouca autonomia e sentem dificuldade em assumir responsabilidades.
Por oposição a estes três ambientes familiares, está o ambiente orientador, no qual os filhos são valorizados, tratados com respeito, sendo-lhes incutida responsabilidade, sendo encorajados a tomar decisões e a reflectir sobre elas. Neste contexto, há firmeza e consistência no cumprimento de regras, o poder é controlado pelos pais, mas partilhado com os filhos, as punições são limitadas e sensatas, havendo espaço à negociação. Promovem-se as tentativas de resolução de problemas, os sentimentos e as emoções dos filhos são respeitados e estimulados a serem expressos.
De uma forma muito geral, no ambiente orientador há comunicação e diálogo entre pais e filhos, o que promove uma melhor interacção com os pares e menor probabilidade dos filhos apresentarem problemas de comportamento; há o respeito pela individualidade, os pais aceitam verdadeiramente os gostos e interesses dos filhos; há uma participação activa por parte dos pais na vida dos seus filhos. Como? Através do conhecimento e acompanhamento das principais actividades dos filhos e através do envolvimento verdadeiro nas questões da escola, do lazer e dos amigos.
Como resultado destes comportamentos e atitudes por parte dos pais há a valorização dos filhos, permitindo-lhes que se sintam seguros, amados e motivados para colaborar, sabendo o que é esperado deles, são autónomos, com confiança, auto-controlo e auto-estima positiva, são assertivos, responsáveis, disciplinados, com iniciativa para explorar o que os rodeia.
Em jeito de síntese, poderemos distinguir os pais que educam por obrigação daqueles que o fazem por vocação, sendo que estes últimos mantêm uma atitude pró-activa em relação aos seus filhos, compreendendo as suas dificuldades e ansiedades, ajudando a organizar o pensamento sobre as decisões, promovendo a confiança nas suas capacidades e decisões. Ajudar um filho a crescer e a desenvolver-se de forma saudável e feliz não implica ser-se demasiado brando ou demasiado rígido com ele, sendo que o equilíbrio é o melhor caminho para a educação de um filho. Os pais que o são por vocação têm a capacidade de identificar os erros que cometem na educação dos seus filhos, estando disponíveis e aptos a corrigi-los e a mudar rapidamente, sempre em prol do crescimento e desenvolvimento saudável dos seus filhos.

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